Megacondomínio será erguido em terreno de antiga rodoviária de SP
16/03/2016
Por Guilherme Blender
Em alguns anos a paisagem de uma reginao histórica e hoje degrada no centro de São Paulo terá uma importante mundança. Um conjunto de habitação de interesse social e de mercado popular com 1.200
apartamentos será erguido no terreno onde ficava o antigo terminal rodoviário da capital paulista.
A autorização para a construção do empreendimento via PPP (parceria público-privada) da Habitação será assinada nesta quarta-feira (16) pelo governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB). O terreno de 18 mil m² fica entre a praça Júlio Prestes e a alameda Barão de Piracicaba. Inaugurada no dia do aniversário da cidade em 1961, a rodoviária funcionou no local até 1982, mas depois foi substituída pelo Terminal Rodoviário Tietê, na zona norte.
As obras do empreendimento devem começar assim que o projeto receber a autorização de órgãos de tombamento, como o Condephaat, órgão estadual de patrimônio, e da Prefeitura de São Paulo, que também integra a parceria público-privada. A previsão para a conclusão da obra é de dois anos e meio.
Segundo o projeto da Secretaria de Estado da Habitação, serão construídos 1.200 apartamentos –de um dormitório (36 m² e 40 m²) e de dois (50 m² e 54 m²). Do total, 90% serão habitações de interesse social, para famílias com renda de até seis salários mínimos mensais (R$ 6.000).
Os outros 10% serão para o mercado popular, para famílias com renda de até dez salários (R$ 10 mil).
Para o secretário estadual da Habitação, Rodrigo Garcia, o empreendimento imobiliário será fundamental para a revitalização da área e ajudará a cidade em outros aspectos. "Os equipamentos culturais, como a Sala São Paulo, ajudaram a revitalizar o centro, mas eles já cumpriram o seu papel. Acho que só moradia vai resolver a nossa questão a partir de agora."
Segundo o secretário, como a maioria das habitações é voltada para quem trabalha no centro mas mora nos bairros, o projeto vai contribuir para melhorar a mobilidade.
As inscrições já estão abertas. É possível se inscrever no site www.habitacao.sp.gov.br até 24 de julho. Para participar, é preciso ter ao menos uma pessoa da família que trabalhe no centro e estar dentro das faixas de renda estabelecidas pelo programa.
O diretor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo do Mackenzie, Valter Caldana, concorda que só habitação pode ajudar a revitalizar o centro, mas defende que apenas construir prédios não vai resolver essa questão. "Trata-se de uma área estratégica para a cidade. Mas não adianta sair fazendo
prédio. Deve-se projetar a 'cidade-resultante'. Devemos discutir, por exemplo, a otimização do espaço do terminal Princesa Isabel, que fica a cerca de 80 metros dali e hoje está rigorosamente destinado ao uso do ônibus", disse.
HISTÓRIA DO TERRENO
1961 - Passa a funcionar o Terminal Rodoviário da Luz, o 1º da cidade. O empreendimento foi iniciativa de Carlos Caldeira Filho e Octavio Frias de Oliveira, que comprariam a Folha em 1962
1982 - Substituída pelo Terminal Rodoviário Tietê, na zona norte, a estação fecha suas portas durante a gestão do então governador Paulo Maluf
1988 - O terreno é vendido para um grupo de empresários, que o transforma em um shopping popular, o Fashion Center Luz
2005 - Um projeto de revitalização da região da Luz é anunciado pela prefeitura
2007 - O então governador José Serra (PSDB) anuncia a desapropriação do shopping para a construção de um complexo cultural que seria o maior da América Latina. As obras eram consideradas peça-chave na revitalização da cracolândia
2009 - É apresentado o projeto. Desenhado pelos suíços Jacques Herzog e Pierre de Meuron, que idealizaram o Tate Modern, museu de Londres, o espaço teria 3 salas de apresentações e escola de dança e música
2010 - O prédio que abrigou a rodoviária e o shopping é demolido para dar lugar ao futuro Complexo Cultural Luz. Abandonado, o terreno passa a ser ocupado por usuários de drogas da região
2012 - Já na gestão Geraldo Alckmin (PSDB), o prazo para o início da construção do espaço, com custo previsto de R$ 500 milhões, é estendido para o 1º semestre de 2013
2014 - O governador manda congelar o projeto por achá-lo caro demais. O Estado já havia desembolsado R$ 118 milhões com arquitetos, consultores e desapropriações
2015 - A Justiça declara nulo o contrato firmado entre a Secretaria da Cultura e o escritório Herzog & de Meuron, responsável pelo projeto. O governo desiste de levar a ideia na região adiante
2016 - O governo do Estado anuncia a construção de moradias populares no terreno e a construtora Canopus vence a licitação